A origem da esgrima
A origem da esgrima remonta a pré-história, quando o homem
empregou, pela primeira vez, um pedaço de madeira para se defender ou atacar,
garantindo a sua sobrevivência. Todavia, só com o surgimento dos metais foram
criadas, de fato, as primeiras armas de combate, sendo, inicialmente,
empregadas por chefes de grupos ou tribos.
A esgrima pode ser dividida em quatro períodos. No primeiro, da
pré-história ao século XVI, estão os primeiros relatos de esgrima em documentos
egípcios, apresentando uma esgrima de impacto, onde eram utilizadas armas de
percussão. Nesse período, os gregos também se utilizavam de armas muito
parecidas com as dos egípcios, utilizando o metal para dar pancadas. As armas
gregas vieram a influenciar as romanas, que eram de mesmo aspecto, porém mais
curtas e largas. Inicialmente, seu uso era puramente guerreiro, porém, com o
passar dos tempos, as armas ganharam também um aspecto circense, sendo
utilizadas por gladiadores com a finalidade de entreter o povo. Nas arenas, os
golpes ainda matavam por percussão, contudo, para tornar os combates mais
rápidos, os gladiadores inventaram o golpe de ponta a cabeça. Este foi o
emprego dado às armas brancas por muito tempo, até que o já decadente Império
Romano foi invadido pelos hunos, em 450 d.C., o que modificou o uso do
armamento e iniciou o emprego do cavalo, com arqueiros constituindo a elite
guerreira nos campos de batalha. O aparecimento destes arqueiros, oriundos da
Ásia Central, deveu-se a uma tropa chamada Akva, palavra de onde se originou
Cavalaria. Esta tropa fez com que o animal, chamado de equus pelos romanos,
viesse a se chamar cavalo, e, a partir de então, as espadas e os cavalos
passaram a dominar os combates. Face à atuação dos hunos, surgiram as
armaduras, extinguindo os arqueiros e aumentando, novamente, a importância das
armas de percussão.
Enquanto a história era assim escrita na Europa, os árabes
expandiam seus domínios liderados por Maomé e seus ensinamentos. Entre 661 e
750 d. C., eles dominaram a Península Ibérica e trouxeram consigo novas
técnicas de forja e têmpera da lâmina, tornando-as mais leves e fortes,
modificando, assim, o uso das armas no combate. O avanço dos árabes na Europa
foi impedido por Charles Martelem, na Batalha de Poitiers, em 732 d.C. Após a
batalha, sucederam-se inúmeros combates entre cristãos e sarracenos, porém sem
nenhuma inovação na esgrima.
Nesta época, aparece o feudalismo na Europa e a escravidão é
trocada pela servidão. Camponeses e senhores vivem em função dos castelos e a
guerra muda de caráter. As lâminas se tornaram mais fortes e mais finas na
extremidade, aumentando o uso da ponta. O golpe principal ainda era através de
pancadas, mas o modo de combate começava a sofrer modificações.
Em 1096, iniciam-se as cruzadas, que criaram inúmeras lendas e
mitos, como a do Rei Ricardo Coração de Leão e do Rei Saladino, que mostravam a
diferença da esgrima de força e armas pesadas de Ricardo Coração de Leão contra
a sutileza da esgrima de Saladino.
Neste período, os cavaleiros da Europa se adestravam em torneios
conhecidos com justas, usavam armadura e protetores e introduziram a lança de
guerra para o combate, que era mais longa e alcançava os inimigos a uma maior
distância.
No segundo período, que se deu do século XVI até meados do
século XVIII, as armas se tornaram maiores e mais pesadas, a fim de aumentar o
impacto dos golpes. Com isso, as armaduras tiveram que ser mais fortes e
resistentes, tornando-se tão pesadas que o cavaleiro era incapaz de montar seu
cavalo sem auxílio. Essas novas vestes de combate, mais uma vez, modificaram as
guerras e confrontos da época.
Os três séculos seguintes vieram a caracterizar bem esse novo
período. Por volta de 1560, os exercícios entre cavaleiros eram bastante
comuns, os senhores e seus súditos iam a outras vilas para torneios, que
começavam pela manhã e terminavam ao pôr-do-sol. Eram seguidos por tratamento
aos feridos e grandes festas e banquetes. Porém, essa era de justas e torneios
chegou ao fim após a morte de Henrique II, da França, perante sua própria
corte, tendo o próprio Papa proibido sua continuação. Daí em diante, não se
veria mais lanças, espadas e cavalos nos campos de batalha.
Entretanto, dois outros fatores já estavam contribuindo para
mudanças na esgrima em combate: o surgimento das armas de fogo portáteis, que
feriam os cavaleiros através das couraças, e as novas espadas, com lâminas mais
resistentes e ponta fina, que cortavam e feriam mortalmente em combate, através
das articulações da armadura. Assim, as grandes espadas e as armaduras sairiam
do cenário, dando lugar a rapiére e ao punhal em lutas muito mais velozes.
Para essa nova esgrima, criou-se um novo adestramento ao
combate, treinando saltos sobre o cavalo, que antes não eram possíveis devido
ao peso dos armamentos.
O domínio do manejo e da fabricação de armas passou da Espanha,
na Península Ibérica, para a Itália, onde surgiram os primeiros tratados e
estudos de esgrima, que apesar de serem confusos, começaram a criar a sua base
Os primeiros tratados falavam sobre a posição de guarda, a esquiva, o golpe à
face, bem como do uso da espada e do punhal para a defensiva. As espadas, nessa
época, eram bastante longas e com a ponta perfurante, chamadas durindanas.
Os italianos vencem inúmeras dificuldades no início dessa
supremacia. Foram feitos novos estudos sobre ataques de ponta, defesas com o
punhal e com a capa, golpe ao pescoço e ao rosto, tendo o homem, enfim,
descoberto que o golpe de ponta podia ser realizado a uma maior distância,
sendo, portanto, mais seguro.
Deste modo, começaram a ser difundidos todos os golpes da
esgrima, apresentando soluções para a utilização do armamento em todos os tipos
de situação, incluindo a retirada em caso de grande desvantagem. Como o
material de combate para essas novas situações foi muito modificado, deu-se fim
à lança e ao escudo e começou-se a utilizar a espada e a adaga.
Por volta do século XVII, surgem as primeiras pistolas com
capacidade para um ou dois cartuchos. Elas não fizeram o homem deixar a espada,
pois, em caso de falha das armas de fogo, elas deveriam ser utilizadas, mas
mudaram mais um pouco a face do combates. Nesse século, o domínio das espadas
passa dos italianos para os franceses, surgindo aí uma rivalidade esgrimística
que dura até os dias atuais.
Na França, surgiram as primeiras escolas de esgrima. As pistas
eram desenhadas no chão, tendo sido criados novos golpes e escritos mais
tratados, mudando, novamente, a técnica de combate na esgrima. A posição de
guarda passou a ser abordada de uma nova forma: criou-se o golpe à perna do
adversário, o a fundo, assim como o uso da mão desarmada no combate.
Surge, também, nesse período, uma grande rivalidade entre a
espada, cujo principal golpe era o de ponta, e o sabre, que o principal golpe
era o de corte. Vários duelos foram realizados para se determinar o melhor
armamento, mas nenhum resultado foi alcançado.
O material começou a evoluir, tornando a esgrima mais parecida
com a dos dias atuais. Surgiram as luvas, a máscara, os punhais, os coletes
para os mestres, bem como os floretes, armas de treinamento mais leves e com
golpes não letais.
Com Luis XIV, a esgrima francesa chegou ao ápice. Surge o a
fundo, já na sua concepção atual de ataque. Era o tempo dos mosqueteiros, que
se tornaram muito mais famosos pelo uso de suas espadas do que de seus
mosquetes. Os golpes com o uso das espadas e das adagas foram aperfeiçoados,
bem como o jogo de pernas, passando a dar grande movimentação ao combate. Foram
feitos estudos do uso da lanterna para cegar o adversário e dos ataques ao
braço para, primeiro, ferir o adversário e, depois, matá-lo. Assim, entrou o
século XVIII, com o início do uso racional das armas brancas, dando início à
esgrima moderna.
As lâminas ficaram mais curtas e as defesas mais eficazes, os
golpes passaram a ser de ponta e a utilização da perna se tornou muito complexa
e eficaz nos deslocamentos. Com o surgimento dos duelos, a utilização da espada
passou a ser meio de vida ou morte, aumentando em muito a quantidade de
treinamentos.
Para evitar ferimentos nos olhos, durante os treinos, nasceram
as convenções de esgrima. Dois esgrimistas, por exemplo, não podiam atacar
simultaneamente, isto é, se um deles atacasse, era necessário que o atacado se
defendesse para poder atacar depois. Essas convenções são a origem das regras
de sabre e florete da atualidade.
Como a história sempre se repete, a nobreza começou a se matar
através de inúmeros duelos, dizimando diversas cortes. Os duelos não eram
restritos somente aos homens, as mulheres também duelavam pela sua honra.
No final do século XVIII, iniciou-se o terceiro período da
esgrima. La Bosiére criou a máscara, semelhante a dos dias atuais. A esgrima
sofreu uma grande mudança nos seus treinamentos em escola, surgindo a frase
d’armas, que é a troca sucessiva de golpes com velocidade, agora sem o risco de
ferimento nos olhos, devido ao uso da máscara.
Nessa época, apareceram as armas semi-automáticas que causaram o
total desaparecimento de lanças, de espadas e de cavalos de guerra. A última
carga de cavalaria da história, porém, foi a realizada pela Polônia contra os
blindados alemães na Segunda Guerra Mundial.
Com todos esses acontecimentos, a esgrima perdeu sua
característica bélica, ficando restrita ao caráter esportivo. Todavia, ainda
persistiam os duelos, moda naquela época, mas que foram extintos no início do
século XIX. Portanto, a ferida, que antes determinava o vencedor, foi
substituída pelo árbitro, tornando necessário o toque com bastante nitidez e
clareza de movimentos. Com isso, a esgrima se tornou mais acadêmica, sendo a
agilidade e a velocidade, fatores antes primordiais para a sobrevivência,
relegadas a um segundo plano, nessa nova esgrima de desporto, estática e
sofisticada. Em 1896, a esgrima foi introduzida nos Jogos Olímpicos de Atenas,
sendo, até os dias atuais, um esporte olímpico. Em 1913, surgiram as regras
internacionais de esgrima, alcançado, enfim, seus objetivos atuais: a educação
física e mental de seus praticantes.
Em 1936, nos Jogos Olímpicos de Berlim, surgiu o primeiro
aparelho elétrico de esgrima para a arma de espada, eliminando, dessa forma, a
antiga votação dos juízes sobre a materialidade do toque nessa arma.
Assim, a forma
estática de se praticar esgrima foi substituída por um modo dinâmico, com
golpes velozes e fulminantes, sedimentados na grande preparação física,
tornando a esgrima, novamente, um esporte tipicamente agonístico.
http://www.brasilesgrima.com.br/historia.htm
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